Tão bom quanto o primeiro livro da trilogia, uma história completa de mistério, deuses e demônios, e temas como vingança e perdão, a possibilidade de redenção e liberdade de alma. E o melhor de tudo, onde conhecemos Oree, uma protagonista cega, maravilhosa e inteligente!
RESENHA
Tão bom quanto o primeiro livro, talvez até melhor. THE BROKEN KINGDOMS mantém a mesma qualidade e criatividade demonstrada por N.K. Jemisin em seu romance de estréia.
A maior força da prosa de N.K. Jemisin está nos relacionamentos entre os personagens. Essa interação social, o modo como o interior do protagonista narrador (essa trilogia é escrita em primeira pessoa) se mistura com o modo como ele se relaciona com os demais, é o grande segredo da escritora. Os relacionamentos e as interações são usados tanto para a caracterização como para a criação do mundo narrativo.
Desse modo, a construção de mundo que é essencial na literatura de fantasia, ocorre de maneira orgânica, sem que o leitor sinta.
A trama desse livro tem certas semelhanças com o primeiro, mas gostei da ênfase no mistério, o livro tem uma espinha narrativa de investigação bem interessante.
N.K. Jemisin gosta de subverter os tropos tradicionais da fantasia “salsicha”. Salsicha é o nome que dou para os protagonistas machões, brancos e heterosexuais, que compõe a grande maioria das narrativas de fantasia (e de qualquer outro gênero), até recentemente). Bem, na literatura de fantasia “salsicha”, os valores mais defendidos é o da vingança a qualquer preço, da vitória e humilhação final dos inimigos, etc.
Pois bem, N.J. Jemisin detona com tudo isso em THE BROKEN KINGDOMS, que tem, para começar, uma protagonista de pele escura e cega, uma artista que vende sua arte nas ruas de Shadow, a cidade sob Sky, a morada dos deuses.
Só por esse toque original eu já recomendaria o livro, Oree é uma personagem cativante, não tem como não ficar fã dessa mulher valente, mas de uma valentia diferente dos valores marciais “salsichas”, uma valentia de vida mesmo, de sabedoria vinda de uma alma cheia de humanidade. E com suas inseguranças, defeitos, impaciências, etc.
O livro tem temas interessantes e bem abordados, como pós-colonialismo, críticas à seitas e organizações religiosas radicais, o ponto de vista dos cegos.
Mas o mais interessante é como esse segundo livro oferece um ponto de vista completamente diferente e esclarecedor de um dos principais antagonistas do primeiro livro.
E o tema da redenção do que não pode ser redimido, de perdoar o imperdoável, em meio à tendência do cinismo presente literatura de fantasia contemporânea foi refrescante.
E abordado não de forma piegas ou cretina, mas com base em verdades duras, pois, chega uma hora, ou hoje ou em um milhão de anos, que a gente tem que perdoar o imperdoável. Não tem jeito, vééééio!
Fantástico mesmo, e mostra que, já há muito tempo, a literatura de fantasia não tem nada a dever aos trabalhos ditos de “alta literatura”. Tudo está misturado hoje em dia, o que é maravilhoso. Mistureba é a minha religião pessoal, é misturando que a gente pode ter algum futuro para esse planeta!
Recomendadísssimo!
SINOPSE
Na cidade da Sombra, embaixo da Árvore do Mundo, ruas estreitas brilham com magia, e deuses vivem entre os mortais.
Oree Shoth, um artista cego, recebe um mendigo que brilha como o sol, mesmo em sua cegueira. Esse ato de bondade envolve Oree em uma conspiração de pesadelo. Alguém, de alguma forma, está matando os deuses, e deixando seus corpos desecrados.
O convidado peculiar de Oree está no centro de tudo, sua presença a colocando em perigo mortal, mas é ele que os assassinos querem ou é Oree?
The Broken Kingdoms (Inheritance #2) – N.K. Jemisin | Orbit, 2010, 384 páginas | Lido de 08.01.16 a 10.01.16
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PRÓXIMA LEITURA
O Livro do Desassosego – Fernando Pessoa | Presença, 1982, 544 páginas | Início da Leitura 10.01.16
E chego ao famosíssimo Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa, um dos livros mais cultuados pelos críticos do mundo inteiro. E mais um livro da minha lista de “clássicos para se ler” que poderei riscar. Como Clarice, a prosa do Fernando Pessoa é poesia concentrada, cada frase um torpedo atrás do outro. Maravilhoso, leitura obrigatória para quem curte literatura, ou para quem está vivo! :D
SINOPSE
Composto de centenas de fragmentos, dos quais Fernando Pessoa publicou apenas doze, o narrador principal deste livro é o semi-heterônimo Bernardo Soares.
Oscilando entre temas como as variações de seu estado psíquico, a paixão, a moral e o conhecimento, o livro não apresenta uma narrativa linear; antes é composto de diversos trechos e partes que se articulam de maneira mais ou menos aberta. Ainda assim, é a obra de Pessoa que mais se aproxima do romance.
Nesta nova edição, o pesquisador Richard Zenith estabelece nova ordem, acrescenta trechos recentemente descobertos, descarta outros que só após a digitalização do acervo do autor puderam ser corretamente compreendidos – a caligrafia difícil dava margem a inúmeros equívocos – e se posiciona em relação às novidades adotadas na recém-lançada edição crítica da obra, publicada em 2010 em Portugal e tida como base segura para as interpretações do texto.
“O que temos aqui não é um livro mas sua subversão e negação”, escreve Zenith na introdução. Livro fundamental para a compreensão da extensa influência de Pessoa na criação da noção contemporânea de indivíduo, suas páginas revelam o gênio de um autor no seu auge.
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