China Miéville é um escritor-arquiteto de mundos com uma habilidade para o bizarro comparável a mestres como Lovecraft e Clark Asthon Smith. O cara faz um trabalho maravilhoso de explodir com as convenções e os limites da literatura de fantasia, e praticamente sedimentou o New Weird, a nova literatura “estranha”.
Eu consigo ver a multiplicidade de influências no amálgama que ele faz em seus livros; Lovecraft, Stephen King, William Gibson, Clive Barker, Charles Dickson, Poe, etc. etc., camadas e mais camadas de desenvolvimento da literatura de especulação que se encontram no caleidoscópio surrealista que ele amarra com a plausibilidade da ficção científica em algo que, por algum segredo oculto, funciona!

Nesse segundo livro da trilogia Bas-Lag, China retorna ao universo de Perdido Street Station para contar uma história bem diferente, uma história de exploração marítima. Uma espécie de recriação e remodelação (que tem haver com os remade, os escravos industriais cyborgues steampunks e biopunks que sustentam o mundo de Baslag) das narrativas de Júlio Verne (me lembrei do 20 Mil Léguas Submarinas),de narrativas de piratas, algumas pitadas (bem fortes) de Waterworld (mas um Waterworld que funciona!), e da eterna e amaldiçoada busca do conhecimento de Frankenstein.
A narrativa sai da cidade de Nova Crobuzon para explorar os mares do Swollen Ocean (Oceano Inchado!!!), a bordo de uma cidade pirata flutante feita de centenas milhares de navios, a impressionante Armada.
Não vou revelar mais nada da trama, pois o grande barato da narrativa é ir explorando aos poucos o mundo flutuante da Armada e os mistérios que o envolvem. É uma história de investigação, tramas, mistérios, revoluções e busca de poder. O ritmo da narrativa é bem controlado, com momentos de ação e situações onde eu não tinha a menor idéia do que aconteceria depois.
A imaginação maravilhosa e fértil de Miéville continua a todo vapor, com monstros e raças cada vez mais bizarras. A temática leva a mesma visão progressista dos outros livros, com sexualidade ampla, temas de repressão social e revolta social, multiplicidade de pontos de vista, moralidade cinza e complexa. E gostei muito da protagonista da narrativa, apesar de achar que ela poderia ter sido melhor aproveitada do meio para o final da história, penso que foi bem construída, fora dos tropos tradicionais de personagens femininos nesse tipo de trama.
Em termos literários, em Scar China quebra algumas as estruturas básicas de trama e de expectativa; eu adorei, mas não sei se alguns leitores poderão ficar com raiva em alguns momentos. Mas NÃO revelarei nada véio, pode tirar o Bas-Lag da chuva!
China carrega muito na exposição, mas as informações passadas são tão interessantes que eu nem liguei, para mim o careca doidimais pode fazer o tanto de exposição que quiser, o cara é o rei supremo do infodump bem feito!
Fica a recomendação, curti demais esse livro, tanto quanto o primeiro, o Perdido Street Station!
IMAGENS INSPIRADAS PELO ROMANCE THE SCAR (olha que maravilha!)
NITROLEITURAS: The Scar (Bas-Lag #2, 2008) – China Mieville – 820 páginas
Período de Leitura: 08.07.2015 a 12.07.2015
Onde Comprar:
The Scar – China Mieville
PRÓXIMA LEITURA
NITROLEITURAS: The Iron Council ( Bas-Lag #3, 2005) – China Miéville – 576pgs
Terminada a leitura do fantástico The Scar (Bas-Lag #2, 2004, 608pgs, resenha em breve!), começo o Iron Council, o terceiro e último volume da trilogia Bas-Lag do China Miéville, um mergulho fantástico em um dos mundos de fantasia steampunk bizarrice mistireba mais originais que já li em minha vida!
Virei fânzaço do China, VOU LER TUDO DO CARECA DOIDIMAIS, bromance total com o cara, nascemos no mesmo ano, 1972, mesma frequência (seu New Crobuzon tem a mesma vibe do mundo de Intestine, que criei junto com o Cristiano Seixas no meio da década de 90, e dá tem dando muita vontade de retornar para aquele universo).
E fica recomendado o The Scar, é um Júlio Verne ON ACID, MAN! DOIDIMAIS MAAAAN!
E vamos para a pancadaria revolucionária massavéio do The Iron Council!
Show de bola.